Resumo
O inferno, enquanto lugar ou estado de punição eterna, é um tema central nas narrativas bíblicas e na teologia protestante global. Este artigo examina as descrições do inferno no Antigo e Novo Testamento, com ênfase em termos como *Sheol*, *Hades*, *Gehenna* e "lago de fogo", analisando-os sob a ótica das tradições protestantes que priorizam a autoridade das Escrituras (*sola scriptura*). Baseando-se em textos bíblicos e em interpretações de teólogos protestantes influentes, o estudo destaca a visão predominante de justiça divina e separação eterna dos ímpios.
Introdução
No protestantismo global, o inferno é amplamente entendido como o destino final dos que rejeitam a salvação oferecida por Cristo, refletindo a ênfase na soberania de Deus e na responsabilidade humana. Rejeitando intermediários como a tradição eclesiástica católica, os protestantes fundamentam sua compreensão do inferno exclusivamente nas Escrituras. Este artigo explora como as narrativas bíblicas moldam essa doutrina e como ela é interpretada em diversas correntes protestantes, desde reformadores como Lutero e Calvino até teólogos evangélicos contemporâneos.
O Inferno no Antigo Testamento
No Antigo Testamento, o *Sheol* é o principal termo associado ao mundo dos mortos, aparecendo em passagens como Jó 7:9 e Salmos 9:17. Para os protestantes, o *Sheol* não implica punição explícita, mas um estado de separação da presença de Deus, conforme interpretado por John Wesley (Sermons, 1760), que via nele um prenúncio da justiça divina. O *Vale de Hinom* (*Gehenna*), mencionado em Jeremias 19:6, é entendido como um símbolo de julgamento, uma leitura reforçada por teólogos reformados como Charles Spurgeon, que conectava o local a uma antecipação do destino dos ímpios.
O Inferno no Novo Testamento
No Novo Testamento, o conceito de inferno ganha contornos mais definidos, alinhando-se à ênfase protestante na revelação progressiva. O *Hades*, em Lucas 16:19-31 (a parábola do rico e Lázaro), é interpretado por teólogos como R.C. Sproul (2010) como um estado de tormento consciente para os que morrem sem arrependimento. A *Gehenna*, usada por Jesus em Mateus 10:28 e Marcos 9:43-47, é central na visão protestante de um inferno literal de "fogo inextinguível", uma imagem defendida por reformadores como João Calvino (Institutas, 1536), que via nisso a manifestação da ira divina contra o pecado.
O "lago de fogo" do Apocalipse 20:14-15 é amplamente aceito no protestantismo evangélico como o destino final dos condenados, incluindo Satanás e seus seguidores. Essa visão é sustentada por teólogos como John MacArthur (1999), que rejeitam interpretações alegóricas em favor de uma leitura literalista, alinhada à doutrina da inerrância bíblica.
Discussão Teológica no Protestantismo Global
A doutrina do inferno no protestantismo varia entre suas denominações, mas compartilha a rejeição de conceitos como o purgatório, ausente nas Escrituras. Martinho Lutero (95 Teses, 1517) enfatizava o inferno como um alerta à necessidade da fé em Cristo, enquanto Calvino destacava a soberania divina na eleição e na condenação. No evangelicalismo moderno, figuras como Billy Graham reforçaram a visão de um inferno eterno como consequência da rejeição do Evangelho, uma interpretação que domina igrejas pentecostais e batistas globais.
Contudo, algumas correntes protestantes, como os aniquilacionistas (e.g., John Stott, 1988), argumentam que passagens como Mateus 10:28 ("destruir alma e corpo") sugerem a extinção dos ímpios, não um tormento eterno. Essa visão minoritária contrasta com a ortodoxia majoritária, que mantém a eternidade da punição com base em Mateus 25:46.
Conclusão
No protestantismo global, o inferno é concebido como um estado de separação eterna de Deus, fundamentado nas descrições bíblicas de *Sheol*, *Gehenna* e "lago de fogo". A doutrina reflete a tensão entre a justiça e a misericórdia divinas, servindo como apelo à conversão e à fé. Apesar de divergências interpretativas, a visão predominante enfatiza a literalidade das Escrituras, consolidando o inferno como elemento essencial da escatologia protestante. Estudos futuros podem investigar como essas interpretações influenciam a prática missionária contemporânea.
Referências
- Calvino, J. (1536). *Institutas da Religião Cristã*.
- Graham, B. (1997). *Just As I Am*. HarperCollins.
- Lutero, M. (1517). *95 Teses*.
- MacArthur, J. (1999). *The MacArthur Bible Commentary*. Thomas Nelson.
- Sproul, R.C. (2010). *Essential Truths of the Christian Faith*. Tyndale.
- Stott, J. (1988). *Evangelical Essentials*. InterVarsity Press.
- Wesley, J. (1760). *Sermons on Several Occasions*.
- Bíblia Sagrada (versões protestantes, e.g., Almeida Revista e Atualizada).
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