A Cegueira da Desinformação: Como as Narrativas de Bolsonaro Ofuscam a Corrupção e Enredam Seus Eleitores – Uma Análise do Uso de Telegram e WhatsApp

Resumo 

Este estudo examina como Jair Bolsonaro e seus apoiadores utilizaram Telegram e WhatsApp para disseminar narrativas que obscurecem alegações de corrupção e mantêm a lealdade de eleitores entre 2018 e 2022. Baseado em dados de fontes verificáveis, como estudos acadêmicos e reportagens, analisamos o papel dessas plataformas na propagação de desinformação durante eventos-chave, como as eleições de 2018 e 2022 e os protestos pós-eleitorais. Os resultados indicam que o Telegram atuou como um canal de amplificação pública, enquanto o WhatsApp reforçou narrativas em redes privadas, criando uma "cegueira informativa" que protegeu a imagem de Bolsonaro diante de escândalos.


Palavras-chave: Desinformação, Telegram, WhatsApp, Corrupção, Polarização, Bolsonaro.


1. Introdução

O uso de plataformas de mensagens como Telegram e WhatsApp transformou a comunicação política no Brasil, especialmente durante o governo de Jair Bolsonaro (2019-2022). Em 2018, Bolsonaro venceu as eleições presidenciais em um contexto marcado por desinformação em massa no WhatsApp, que favoreceu sua campanha (Campos Mello, 2019). Após restrições no WhatsApp e pressões judiciais, seus apoiadores migraram para o Telegram, que se tornou um espaço central para mobilização e narrativas alternativas antes das eleições de 2022 (Nemer, 2022). Este artigo investiga como essas plataformas foram usadas para neutralizar denúncias de corrupção, como o caso das "rachadinhas" e a tentativa de entrada de joias ilegais, mantendo o apoio de eleitores.


2. Metodologia

Este estudo utiliza uma abordagem qualitativa baseada em fontes secundárias verificáveis, incluindo reportagens investigativas (ex.: Agência Pública, Folha de S.Paulo), análises acadêmicas (ex.: Harvard Kennedy School Misinformation Review) e dados de monitoramento de redes sociais (ex.: DFRLab). Focamos em dois períodos: a campanha de 2018 e os eventos pré e pós-eleitorais de 2022. Analisamos narrativas específicas, como alegações de fraude eleitoral e ataques à mídia, e seu impacto na percepção pública de escândalos de corrupção.


3. Resultados  


WhatsApp (2018):  

Durante as eleições de 2018, o WhatsApp foi pivotal na disseminação de desinformação pró-Bolsonaro. Reportagens da Folha de S.Paulo revelaram que empresas financiaram envios em massa de mensagens falsas contra o Partido dos Trabalhadores (PT), prática ilegal sob investigação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) (Campos Mello, 2019). Cerca de 48% das mensagens virais de direita continham conspirações sobre fraudes eleitorais, enquanto 16% atacavam a mídia tradicional como corrupta (The Guardian, 2019). Esses conteúdos, amplificados em grupos privados, desviaram a atenção de denúncias como a lista de Furnas, que ligava Bolsonaro a esquemas de corrupção em 2000.


Telegram (2021-2022):  

Após limitações no WhatsApp (redução de encaminhamentos para 5 chats), o Telegram emergiu como a plataforma preferida dos bolsonaristas. Em 2021, Bolsonaro incentivou seguidores a migrar para seu canal oficial, que alcançou 1 milhão de inscritos (Nemer, 2022). Antes das eleições de 2022, canais no Telegram divulgaram narrativas de vitimização após escândalos, como a tentativa de entrada de joias sauditas avaliadas em R$ 16,5 milhões em 2021 (O Estado de S.Paulo, 2023). Após a derrota eleitoral, o hashtag #BrazilWasStolen foi amplificado no Telegram e Twitter, acompanhado de pedidos de golpe militar, ignorando investigações sobre corrupção (DFRLab, 2022).


Interação entre plataformas:  

O Telegram serviu como ponto de partida para narrativas públicas, que eram então disseminadas em grupos privados do WhatsApp. Por exemplo, após o ataque ao Capitólio brasileiro em 8 de janeiro de 2023, mensagens no Telegram justificaram a insurreição, enquanto o WhatsApp mobilizou apoiadores localmente (HKS Misinformation Review, 2024).


4. Discussão

Os dados corroboram que o Telegram e o WhatsApp formaram um ecossistema de desinformação que protegeu Bolsonaro de escândalos. O Telegram, com sua falta de moderação e canais de grande alcance, amplificou narrativas de vitimização (ex.: "perseguição judicial"), enquanto o WhatsApp, com 96% de penetração entre usuários de smartphones no Brasil (Nemer, 2022), enraizou essas ideias em redes sociais íntimas. Estudos mostram que a desconfiança na mídia, exacerbada por ataques de Bolsonaro, facilitou a aceitação dessas narrativas (HKS Misinformation Review, 2020). Comparado a outros líderes populistas, como Donald Trump, o caso de Bolsonaro destaca o uso singular de plataformas de mensagens no Sul Global.


5. Conclusão

Telegram e WhatsApp foram ferramentas essenciais para obscurecer corrupção e manter a base de Bolsonaro coesa. A combinação de amplificação pública (Telegram) e mobilização privada (WhatsApp) criou uma "cegueira da desinformação" que desafia a accountability democrática. Recomenda-se maior regulação dessas plataformas e campanhas de alfabetização digital para mitigar seus efeitos. Pesquisas futuras podem explorar o impacto de intervenções específicas, como fact-checking em tempo real.


Bibliografia 

1. Campos Mello, P. (2019). "WhatsApp fake news during Brazil election ‘favoured Bolsonaro’." *The Guardian*. Disponível em: https://www.theguardian.com/world/2019/oct/30/whatsapp-fake-news-brazil-election-favoured-jair-bolsonaro  

2. DFRLab. (2022). "Election fraud narratives surge on Brazilian Twitter following Bolsonaro defeat." *Medium*. Disponível em: https://medium.com/dfrlab/election-fraud-narratives-surge-on-brazilian-twitter-following-bolsonaro-defeat  

3. Nemer, D. (2022). "Bolsonaro crafts new social media strategy ahead of Brazil election." *Financial Times*. Citado via Berkman Klein Center: https://cyber.harvard.edu/story/2022-02/bolsonaro-crafts-new-social-media-strategy-ahead-brazil-election  

4. O Estado de S.Paulo. (2023). "Joias de R$ 16,5 milhões: governo Bolsonaro tentou liberar entrada ilegal." Reportagem confirmada por CNN Brasil, 3 de março de 2023.  

5. HKS Misinformation Review. (2020). "Using misinformation as a political weapon: COVID-19 and Bolsonaro in Brazil." Disponível em: https://misinforeview.hks.harvard.edu/article/using-misinformation-as-a-political-weapon-covid-19-and-bolsonaro-in-brazil/  

6. HKS Misinformation Review. (2024). "Brazilian Capitol attack: The interaction between Bolsonaro’s supporters’ content, WhatsApp, Twitter, and news media." Disponível em: https://misinforeview.hks.harvard.edu/article/brazilian-capitol-attack-interaction-bolsonaro-supporters-content-whatsapp-twitter-news-media/

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