O texto em questão, com tom alarmista e sensacionalista, busca pintar um quadro distorcido da realidade brasileira, sugerindo um suposto "domínio da esquerda" na justiça e na sociedade. Essa narrativa, porém, é frágil e se sustenta em premissas falsas, manipulação de declarações e uma visão conspiratória que não resiste a uma análise séria. Vamos desmontar os três pontos principais levantados:
1. O que o advogado de Braga Netto revelou sobre o domínio da esquerda na justiça?
O texto afirma que José Luis de Oliveira Lima, advogado de Braga Netto, "revelou" que a esquerda domina a justiça, interpretando sua fala como uma confissão de parcialidade sistêmica. Essa é uma distorção grosseira. O que o advogado disse, em entrevista ao Estadão, foi que “defender a esquerda tem muito mais charme” para obter apoio público, referindo-se ao silêncio de entidades acadêmicas, de classe e da imprensa diante de supostas violações ao direito de defesa no caso de Braga Netto. Ele não afirmou que a esquerda controla a justiça, mas sim que há uma percepção de maior solidariedade pública ou intelectual quando se defende causas associadas à esquerda.
Essa declaração não é uma "revelação" de domínio, mas uma crítica à falta de mobilização em torno de um cliente de direita, como o general Walter Braga Netto, acusado de envolvimento em uma tentativa de golpe de Estado. A narrativa da extrema direita ignora o contexto: Oliveira Lima, um advogado experiente que já defendeu figuras como José Dirceu (PT), está apontando uma questão de percepção social, não um fato estrutural. A justiça brasileira, incluindo o STF, é composta por ministros de diferentes origens ideológicas, muitos indicados por governos de direita, como Temer e Bolsonaro. Falar em "domínio da esquerda" é uma fantasia que desconsidera a pluralidade do Judiciário e o rigor técnico de suas decisões, que seguem a Constituição, não agendas partidárias.
2. Quais os setores que a esquerda já controla na nossa sociedade?
O texto sugere que a esquerda "controla" setores como imprensa, entidades e universidades, como se houvesse uma hegemonia absoluta. Essa afirmação é um exagero típico da retórica da extrema direita, que transforma diversidade de ideias em uma teoria conspiratória de dominação. Vamos aos fatos:
- **Imprensa**: A mídia brasileira é majoritariamente controlada por grandes conglomerados privados, como Globo, Record e SBT, que historicamente têm alinhamentos variados, mas raramente esquerdistas. Durante o governo Bolsonaro, por exemplo, a Record foi abertamente favorável ao ex-presidente, enquanto a Globo, apesar de críticas, mantém uma linha editorial comercial e centrista. Não há evidência de um "controle da esquerda" na imprensa — o que existe é uma pluralidade que a direita radical interpreta como hostilidade.
- **Universidades**: É verdade que as universidades públicas brasileiras têm uma forte presença de pensamento crítico, muitas vezes associado à esquerda. Mas isso não é "controle": é o resultado natural de ambientes acadêmicos que valorizam pesquisa, debate e resistência a autoritarismos — como o apoiado por setores da extrema direita. Além disso, universidades privadas, muitas ligadas a grupos religiosos conservadores, contrabalançam essa tendência. A ideia de um monopólio esquerdista é uma caricatura.
- **Entidades**: A OAB, citada pelo advogado de Braga Netto, é uma entidade de classe plural, que já criticou tanto governos de esquerda quanto de direita. Seu silêncio no caso de Braga Netto não prova "charme" da esquerda, mas pode refletir a gravidade das acusações contra o general (tentativa de golpe), que não mobilizam apoio amplo por sua natureza antidemocrática.
A esquerda não "controla" esses setores; ela tem influência em alguns, assim como a direita tem em outros (igrejas evangélicas, agronegócio, forças armadas). O Brasil é um país diverso, e reduzir isso a um domínio unidirecional é uma manipulação para inflamar a base da extrema direita.
3. O impacto disso no julgamento da direita pelo STF e o futuro da oposição?
O texto insinua que o suposto domínio da esquerda no STF prejudica a direita e ameaça a oposição. Essa tese é insustentável. O STF, como guardião da Constituição, tem agido contra abusos de poder independentemente de ideologia. As investigações sobre Braga Netto e Bolsonaro, por exemplo, não são perseguições políticas, mas respostas a evidências concretas de ameaças ao Estado Democrático de Direito — como as denúncias da PGR sobre a tentativa de golpe em 2022, baseadas em delações, documentos e provas materiais.
A extrema direita quer transformar o STF em vilão para deslegitimar suas decisões, mas ignora que o tribunal já tomou medidas favoráveis a seus interesses em outros casos (como a manutenção do foro privilegiado ou decisões econômicas pró-mercado). O julgamento de figuras como Braga Netto não é um ataque à oposição, mas uma defesa das instituições contra atos criminosos. A oposição legítima — aquela que opera dentro da democracia — segue ativa e forte, como mostram os partidos de direita no Congresso e o desempenho eleitoral de 2022.
O "futuro da oposição" não está em risco por um suposto viés do STF, mas pela própria radicalização da extrema direita, que aposta em narrativas golpistas em vez de propostas políticas sólidas. A máscara que caiu não é a da esquerda, mas a de uma direita que prefere vitimismo a accountability.
Conclusão: A Verdadeira Narrativa
O texto da extrema direita é uma tentativa de distorcer a fala de José Luis de Oliveira Lima para alimentar uma teoria da conspiração. Não há "domínio da esquerda" na justiça ou na sociedade brasileira — o que existe é um sistema complexo, com múltiplos atores e interesses. A esquerda tem voz, sim, mas a direita também, como prova a ascensão de Bolsonaro e seus aliados. A acusação de que "defender a esquerda é mais fácil" não passa de uma percepção subjetiva do advogado, não de um fato estrutural. A verdadeira dificuldade da defesa de Braga Netto não está em um suposto viés ideológico, mas na gravidade das provas contra ele. A extrema direita, ao gritar "dominado!", apenas expõe sua incapacidade de lidar com a democracia e a lei.
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