Resumo
Este artigo explora a dor emocional de um pai que sente o abandono de sua filha, utilizando as teorias de Sigmund Freud e Jacques Lacan. A partir do complexo de Édipo freudiano e do conceito lacaniano do Nome-do-Pai, analisamos como a ausência da filha reverbera na psique paterna, gerando angústia e um vazio simbólico. A busca por uma filha presente é examinada como um desejo de restauração do vínculo afetivo e da ordem simbólica. O texto propõe reflexões sobre o luto, a culpa e a possibilidade de reconciliação, apoiando-se em fontes bibliográficas clássicas e contemporâneas.
Introdução
A experiência de um pai que sente o abandono de sua filha é carregada de nuances emocionais e psíquicas. Para Freud, o vínculo pai-filha é estruturado pelo complexo de Édipo, no qual a filha deseja o pai como objeto amoroso antes de redirecionar sua libido para o mundo externo. Lacan, por sua vez, reformula essa relação ao enfatizar o papel do pai como portador do Nome-do-Pai, uma função simbólica que introduz a lei e a separação na díade mãe-filha. Quando a filha se distancia, seja por fatores reais (como rupturas familiares) ou simbólicos (como rejeição percebida), o pai pode vivenciar uma dor profunda, interpretada como perda de seu lugar no psiquismo da filha. Este artigo investiga essa dor, utilizando Freud e Lacan, e propõe caminhos para compreender a busca por uma filha presente.
A experiência de um pai que sente o abandono de sua filha é carregada de nuances emocionais e psíquicas. Para Freud, o vínculo pai-filha é estruturado pelo complexo de Édipo, no qual a filha deseja o pai como objeto amoroso antes de redirecionar sua libido para o mundo externo. Lacan, por sua vez, reformula essa relação ao enfatizar o papel do pai como portador do Nome-do-Pai, uma função simbólica que introduz a lei e a separação na díade mãe-filha. Quando a filha se distancia, seja por fatores reais (como rupturas familiares) ou simbólicos (como rejeição percebida), o pai pode vivenciar uma dor profunda, interpretada como perda de seu lugar no psiquismo da filha. Este artigo investiga essa dor, utilizando Freud e Lacan, e propõe caminhos para compreender a busca por uma filha presente.
1. Freud e a Dor do Abandono no Complexo de Édipo
Para Freud, o complexo de Édipo é central na formação psíquica. Na relação pai-filha, a menina inicialmente deseja o pai como objeto de amor, mas deve renunciar a esse desejo para ingressar na ordem social, transferindo sua libido para outros objetos (Freud, 1924). Quando a filha se afasta, o pai pode interpretar essa separação como uma rejeição pessoal, desencadeando sentimentos de culpa e inadequação. Em Inibição, Sintoma e Angústia (1926), Freud descreve a angústia como resultante de uma perda ou ameaça ao ego, o que se aplica ao pai que sente seu papel questionado.
Para Freud, o complexo de Édipo é central na formação psíquica. Na relação pai-filha, a menina inicialmente deseja o pai como objeto de amor, mas deve renunciar a esse desejo para ingressar na ordem social, transferindo sua libido para outros objetos (Freud, 1924). Quando a filha se afasta, o pai pode interpretar essa separação como uma rejeição pessoal, desencadeando sentimentos de culpa e inadequação. Em Inibição, Sintoma e Angústia (1926), Freud descreve a angústia como resultante de uma perda ou ameaça ao ego, o que se aplica ao pai que sente seu papel questionado.
A dor do abandono, nesse contexto, pode ser vista como um luto pela perda do objeto amoroso (a filha). Freud, em Luto e Melancolia (1917), argumenta que o luto envolve a lenta retirada da libido do objeto perdido, mas no caso do abandono paterno, essa retirada é complicada pela culpa. O pai pode se perguntar se falhou em sua função protetiva ou se sua ausência contribuiu para o distanciamento, intensificando a angústia.
2. Lacan e o Nome-do-Pai: O Vazio Simbólico
Lacan reformula o papel do pai ao introduzir o conceito do Nome-do-Pai, que representa a lei simbólica e a mediação entre a criança e a mãe. Em O Seminário, Livro IV: A Relação de Objeto (1956-57), Lacan argumenta que o pai não é apenas uma figura real, mas uma função que estrutura o psiquismo, permitindo à criança sair da fusão imaginária com a mãe e ingressar no registro simbólico (Lacan, 1991). Quando a filha se afasta, o pai pode vivenciar essa separação como uma falha de sua função simbólica, sentindo que perdeu seu lugar na ordem que ele próprio deveria sustentar.
Lacan reformula o papel do pai ao introduzir o conceito do Nome-do-Pai, que representa a lei simbólica e a mediação entre a criança e a mãe. Em O Seminário, Livro IV: A Relação de Objeto (1956-57), Lacan argumenta que o pai não é apenas uma figura real, mas uma função que estrutura o psiquismo, permitindo à criança sair da fusão imaginária com a mãe e ingressar no registro simbólico (Lacan, 1991). Quando a filha se afasta, o pai pode vivenciar essa separação como uma falha de sua função simbólica, sentindo que perdeu seu lugar na ordem que ele próprio deveria sustentar.
A dor do pai, sob a ótica lacaniana, é agravada pelo que Lacan chama de “falta” (manque). A filha, ao se tornar ausente, deixa um vazio no campo do Outro, o lugar onde o pai busca validação de seu desejo. Em O Seminário, Livro X: A Angústia (1962-63), Lacan sugere que a angústia surge da presença do objeto a (objeto pequeno a), que aqui pode ser entendido como o desejo não articulado da filha, que escapa ao controle do pai. Esse vazio simbólico gera uma sensação de desamparo, pois o pai não consegue mais “ler” o desejo da filha em relação a ele.
3. A Busca por uma Filha Presente
A busca por uma filha presente reflete o desejo do pai de restaurar o vínculo perdido e reafirmar sua função simbólica. Freud sugere que o trabalho de luto pode levar à reinvestimento da libido em novos objetos, mas no caso do pai abandonado, esse processo é complexo, pois a filha não está fisicamente perdida, mas emocionalmente distante. A reconciliação, nesse sentido, exige que o pai aceite a autonomia da filha como sujeito desejante, conforme Lacan destaca em sua teoria do desejo como desejo do Outro.
A busca por uma filha presente reflete o desejo do pai de restaurar o vínculo perdido e reafirmar sua função simbólica. Freud sugere que o trabalho de luto pode levar à reinvestimento da libido em novos objetos, mas no caso do pai abandonado, esse processo é complexo, pois a filha não está fisicamente perdida, mas emocionalmente distante. A reconciliação, nesse sentido, exige que o pai aceite a autonomia da filha como sujeito desejante, conforme Lacan destaca em sua teoria do desejo como desejo do Outro.
Para Lacan, a filha presente não é apenas a figura real, mas a filha que reconhece o pai em seu papel simbólico. Esse reconhecimento pode ser dificultado por falhas na comunicação ou por traumas familiares, como os descritos por Sibylle Lacan em A Father (2019), onde ela narra a ausência de Jacques Lacan como pai, sentida como um vazio estrutural (). A busca por reconciliação, portanto, envolve o trabalho de resignificar a relação, permitindo que o pai encontre um novo lugar na vida da filha, sem negá-la como sujeito independente.
4. Reflexões Clínicas e Culturais
Na prática clínica, a dor do abandono paterno pode manifestar-se como depressão, ansiedade ou sintomas conversivos, como Freud observou em casos de histeria (Freud, 1905). Lacan, por sua vez, enfatiza a importância de trabalhar o significante paterno na análise, ajudando o pai a compreender sua angústia como parte de uma estrutura simbólica maior. Culturalmente, a figura do pai abandonado ressoa em narrativas como a de Toni Morrison (Beloved), onde a separação mãe-filha é analisada sob a ótica lacaniana como uma perda do objeto de desejo ().
Na prática clínica, a dor do abandono paterno pode manifestar-se como depressão, ansiedade ou sintomas conversivos, como Freud observou em casos de histeria (Freud, 1905). Lacan, por sua vez, enfatiza a importância de trabalhar o significante paterno na análise, ajudando o pai a compreender sua angústia como parte de uma estrutura simbólica maior. Culturalmente, a figura do pai abandonado ressoa em narrativas como a de Toni Morrison (Beloved), onde a separação mãe-filha é analisada sob a ótica lacaniana como uma perda do objeto de desejo ().
A reconciliação com a filha exige que o pai enfrente sua própria falta, aceitando que não pode ser o objeto total de desejo da filha. Esse processo pode ser doloroso, mas também libertador, pois permite ao pai redefinir sua identidade fora do papel de “protetor” ou “proibidor”, como Lacan descreve em O Seminário, Livro VII: A Ética da Psicanálise (1959-60) ().
Conclusão
A dor do pai que sente o abandono da filha é um fenômeno complexo, que pode ser compreendido à luz das teorias de Freud e Lacan. Enquanto Freud destaca a perda do objeto amoroso e a culpa associada, Lacan aponta para o vazio simbólico e a falha na função do Nome-do-Pai. A busca por uma filha presente é, em essência, a busca por restaurar o vínculo simbólico e afetivo, mas isso exige que o pai aceite a filha como sujeito autônomo. Este artigo sugere que a psicanálise oferece ferramentas valiosas para trabalhar essa dor, promovendo a possibilidade de reconciliação e crescimento mútuo.
A dor do pai que sente o abandono da filha é um fenômeno complexo, que pode ser compreendido à luz das teorias de Freud e Lacan. Enquanto Freud destaca a perda do objeto amoroso e a culpa associada, Lacan aponta para o vazio simbólico e a falha na função do Nome-do-Pai. A busca por uma filha presente é, em essência, a busca por restaurar o vínculo simbólico e afetivo, mas isso exige que o pai aceite a filha como sujeito autônomo. Este artigo sugere que a psicanálise oferece ferramentas valiosas para trabalhar essa dor, promovendo a possibilidade de reconciliação e crescimento mútuo.
Referências Bibliográficas
- Freud, S. (1905). Fragmento de uma Análise de um Caso de Histeria. In: Obras Completas de Sigmund Freud, Vol. VII. Londres: Hogarth Press.
- Freud, S. (1917). Luto e Melancolia. In: Obras Completas de Sigmund Freud, Vol. XIV. Londres: Hogarth Press.
- Freud, S. (1924). A Dissolução do Complexo de Édipo. In: Obras Completas de Sigmund Freud, Vol. XIX. Londres: Hogarth Press.
- Freud, S. (1926). Inibição, Sintoma e Angústia. In: Obras Completas de Sigmund Freud, Vol. XX. Londres: Hogarth Press.
- Lacan, J. (1991). O Seminário, Livro IV: A Relação de Objeto, 1956-57. Ed. Jacques-Alain Miller. Paris: Seuil.
- Lacan, J. (1992). O Seminário, Livro VII: A Ética da Psicanálise, 1959-60. Trad. Dennis Porter. Londres: Routledge.
- Lacan, J. (2006). O Seminário, Livro X: A Angústia, 1962-63. Ed. Jacques-Alain Miller. Paris: Seuil.
- Lacan, S. (2019). A Father. MIT Press.
- Ramirez, M. (2014). Lacanian Psychoanalysis of Mother-Child Relationship in Toni Morrison’s Beloved. ResearchGate.
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