Homenagens a Revista Veja pubicada em 02/11/1977 e ao nobre escritor Carlos Drummond de Andrade

Ah, não me tragam originais para ler, para corrigir, para louvar sobretudo, para louvar. Não sou leitor do mundo nem espelho de figuras que amam refletir-se no outro à falta de retrato interior. Sou o Velho Cansado que adora o seu cansaço e não o quer submisso ao vão comércio da palavra. Poupem-me, por favor ou por desprezo, se não querem poupar-me por amor. Não leio mais, não posso, que este tempo a mim distribuído cai do ramo e azuleja o chão varrido, chão tão limpo de ambição que minha só leitura é ler o chão. Nem sequer li os textos das pirâmides os textos dos sarcófagos, estou atrasadíssimo nos gregos, não conheço os Anais de Assurbanipal, como é que vou - mancebos, senhoritas, -chegar à poesia de vanguarda e às glórias do 2.000, que telefonam? Passam gênios talvez entre as acácias, sinto estátuas futuras se moldando sem precisão de mim que quando jovem (fui-o a.C., believe or not) nunca pulei muro de jardim para exigir do morador tranqüilo a canonização do meu estilo. Sirvam-se de exonerar este macróbio do penoso exercício literário. Não exijam prefácios e posfácios ao ancião que mais fala quando cala. Brotos de coxa flava e verso manco, poetas de barba-colar e velutínea calça puída, verde: tá! Outoniços, crepusculinos, matronas, contumazes: tá!
O senhor saiu. Hora que volta? Nunca. Nunca de corvo, nunca de São-Nunca. Saiu pra não voltar.
Grifo meu. Tudo esqueceu: responder cartas; sorrir cumplicemente; agradecer dedicatórias; retribuir boas-festas; ir ao coquetel e à noite de autógrafos-com-pastorinhas. Ficou assim: o cacto de Manuel é uma suavidade perto dele. Respeitem a fera. Triste, sem presas, é fera. Na jaula do mundo passeia a pata aplastante, cuidado com ela! Vocês, garotos de colégio, não perguntem ao poeta quando ele nasceu. Ele não nasceu. Não vai nascer mais. Desistiu de nascer quando viu que o esperavam garotos de colégio de lápis em punho com professores na retaguarda comandando: Cacem o urso-polar, tragam-no vivo para fazer uma conferência. Repórteres de vespertinos, não tentem entrevistá-lo. Não lhe, não me peçam opinião que é impublicável qualquer que seja o fato do dia e contraditória e louca antes de formulada. Fotógrafos: não adianta pedir pose junto ao oratório de Cocais nem folheando o álbum de Portinari nem tomando banho de chuveiro. Sou contra Niepce, Daguerre, contra principalmente minha imagem. Não quero oferecer minha cara como verônica nas revistas. Quero a paz das estepes a paz dos descampados a paz do Pico de Itabira quando havia Pico de Itabira a paz de cima das Agulhas Negras a paz de muito abaixo da mina mais funda e esboroada de Morro Velho a paz da paz
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